A força da diversidade na América Latina: o novo papel da liderança feminina no continente. Coluna do Ingo Plöger.

Nas sociedades modernas, abertas, a diversidade acentua a multiplicidade de opções, e aumenta a qualidade das decisões. A diversidade, nas sociedades contemporâneas, é ativa e se articula através das redes e dos novos meios de comunicação, mostrando-se de maneira acentuada e diferente. Em muitos casos a diversidade se acentua em seu papel de minoritário, que busca seu novo ou reconhecido espaço na tomada de decisões, tanto na política, nas organizações e nas sociedades.

Seu papel de posicionamento em muitos casos reforça posições desta minoria ou da categoria que não consegue exercer sua força da real representatividade. Minorias raciais são um exemplo disto, mas também o de gênero são atributos, que muitas vezes estão sub representados nas sociedades.

O caso mais emblemático é o papel das mulheres. Representam ao mínimo 50% nas sociedades, e nem sempre tem o mesmo peso nas decisões estabelecidas institucionalmente. Em outros casos a questão racial ou de origem, cujas representações por vezes são até maiores do que 50%, não recebem a mesma devida atenção. Nas sociedades latino-americanas o maior envolvimento desta diversidade explicita, certamente é o das mulheres seguida da origem racial. As sociedades latinas, na sua origem deram uma prevalência na sociedade formal das instituições explicitamente a predominância masculina, enquanto no grupo familiar a mulher exerce uma força de autoridade natural na formação de sua família.

Desde o início do século XX, a emancipação da mulher segue um curso irreversível, colocando cada vez mais a mulher no compartilhamento da gestão formal, com o homem. As sociedades mais abertas, liberais, conseguiram trazer a mulher com suas diferenciadas qualidades no conjunto deste processo, enquanto as mais tradicionais, mantiveram a prevalência da hegemonia masculina. Na política, poucas foram as mulheres, que exerceram a posição da liderança máxima, porém nenhuma democracia latino-americana pode deixar de trazer a mulher junto a ministérios e órgãos de comando de Estado. Nos Legislativos e Judiciários a mulher entra ainda sub representada mas com crescente participação irreversível.

Muito interessante, de se notar, que com a experiencia destas inserções, muitas das políticas publicas orientadas ao Bem Estar da família, se baseiam na mulher como esteio familiar. Programas sociais como Renda Mínima, por exemplo no Brasil, definem como beneficiário a mulher, que pela vivência dedica melhor e mais assertivamente os recursos para o bem-estar de seus filhos e depois aos adultos familiares. Muitos créditos financeiros, dedicados a família, onde o tomador é a mulher recebem valores de risco menor. Isso torna a mulher no centro destas atenções estruturalmente uma fiadora mais confiável, na administração destes recursos de essencialidades. Não são poucas, as lideranças mulheres, em campos financeiros de alto escalão, em organizações de varejo onde a tomada de crédito e a orientação ao consumo é dado às mulheres. Mencionando a crescente participação das mulheres no empreendedorismo e na inovação. Assim as lideranças compartilhadas, entre homens e mulheres se tornam cada vez mais uma marca de sucesso nas organizações contemporâneas.

Aparentemente a participação feminina, é mais visível, nas sociedades abertas nas áreas de serviços, que hoje representa mais de 50% do PIB da América Latina. Porém esta impressão pode ser falha se repararmos atualmente, a liderança de mulheres crescerem exponencialmente em áreas antes ocupadas essencialmente pelos homens. As áreas de Tecnologia da Informação, Robótica, Automação, P&D entre outras são áreas com cada vez mais a presença da mulher se faz notar. O Agronegócio latino-americano, apresenta cada vez mais “lideranças do campo” da nova geração, expressas por participações fortes e de sucesso através das mulheres. Muitas delas vieram de pequenos empreendimentos rurais, que para sobreviveram, buscaram na qualidade e na especialidade o seu diferencial. Em ambientes adversos, seguiram com muita perseverança e montaram de seus pequenos empreendimentos, negócios sustentáveis e crescendo se tornando maiores.

Outras revelações são as mulheres que na segunda, ou terceira geração, de empreendedores do agronegócio, assumem posições de liderança, por terem vivido em propriedades rurais e estudado em universidades de primeira linha de seus países.

Não são poucas que se veem hoje frequentando com seus 40 anos ou mais, em posições de destaque, formações para serem conselheiras de empresas, ou em escolas internacionais de gestão, pois o seu mercado e sua visão já ultrapassam as fronteiras de seus países. São estas lideranças que mostram que novos conceitos como o ESG ou a sustentabilidade, não oferece resistências, pelo contrário, são novas protagonistas, pois já partem de muito do que a mulher realiza em sua vida e acredita. As entidades empresariais, mostram que onde há governança moderna e contemporânea, mulheres assumem posições de destaque, e são as primeiras a serem fiéis aos melhores princípios de governança. É difícil ver mulheres não realçarem a importância da governança nas organizações, não só porque favorece a diversidade e a transparência, mas porque lhes dá segurança de que as regras do jogo são o que de melhor poderá assegurar o futuro criativo e inovador na organização.

Nos novos tempos da velocidade da digitalização e da necessidade adaptativa, a diversidade, que pode aparentar o retardamento decisória dos processos, na verdade aumenta a qualidade das respostas dadas aos desafios. A diversidade é a garantia mais segura, que não deixaremos ninguém para trás, e aumentaremos a competência e a legitimidade do todo.

O risco, como tudo em nosso tempo, pode estar no exagero da diversidade, dando tanta voz ao minoritário, que tolhe o majoritário a assumir mais riscos e ser mais insercivos. O direito da diversidade, não deve ser confundido com o direito sobre o majoritário, garantindo, voz, espaço, participação e transparência a todos os participantes do processo. Esta é a arte de liderar contemporaneamente, fazendo com que o contraditório tenha espaço e possa influenciar o curso da história, sem se tornar uma ditadura das minorias, e sendo um agente transformador. A mulher em conjunto com o homem, respeitando as nossas diversidades raciais, culturais, ambientais são a riqueza da nossa humanidade, e nesse conjunto que formamos uma das mais belas orquestras na humanidade, tocando a melodia do coração das pessoas, executada por talentos diversos, sem preconceitos, mas com o conceito que somos um só corpo no todo, na busca permanente da paz, harmonia e bem estar.

Ingo Ploger. Brasileiro, empresário, presidente do CEAL Cap Brasil

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