Novas realidades, diferentes cenários outras decisões: uma coluna de Ingo Plöger

By Ingo Plöger*

A realidade das relações internacionais se alterou profundamente, fazendo com que no imaginário das lideranças mundiais o quadro geopolítico se alterou de vez, fazendo com que outras decisões se tornam necessárias, no proposito principal de contenção de risco, e depois na busca de melhores alternativas. O cenário internacional está se movendo rapidamente e a leitura adequada das opções se tornam cada vez menos previsíveis.

Os fatores pós pandemia e a guerra da Ucrania, e agora Israel, reverterem o quadro das propostas multilaterais de tal ordem que uma nova ordem de potencias globais se sobrepuseram ao sonho de uma globalização multilateral. O multilateralismo teve seu primeiro impacto marcado na pandemia quando a OMS não conseguiu oferecer uma ajuda multilateral aos afetados, se resumindo a um provedor de informações globais e um recomendador de procedimentos. Excedentes de vacinas em países desenvolvidos, não puderam ser distribuídos a quem ainda não se conseguiu vacinar seu povo em países em desenvolvimento, mostrando a incapacidade global da solidariedade humana. A questão das patentes das vacinas foi tão mal-conduzido, que ao final além de haver a cobertura financeira dos investimentos em saúde pelas empresas envolvidas, houve um exagerado ganho econômico das mesmas sobre a desgraça alheia, fomentando a impressão do capitalismo selvagem ante a economia social de mercado. De ESG neste particular aspecto não podemos mostrar ninguém, que se sobressaiu, o que mostrou um vácuo de valores globais. No pós pandemia as cadeias produtivas de valor estavam completamente desequilibradas, pela exagerada demanda dos componentes eletrônicos pelos meios de comunicação e entretenimento, o colapso logístico, e a falta destes componentes na mobilidade e em outros produtos. Não só elas, mas a grande questão dos abastecimentos nas cadeias de suprimentos alimentares e do acréscimo de preço das energias fosseis, fizeram com que a inflação de oferta se instalasse nas economias mundiais. A inflação, a mais perversa consequência empobrecedora das classes mais vulneráveis, abriu um tremendo espaço no ritmo do crescimento das desigualdades mundiais. Como se não bastasse, políticas ambientais na COP26, não deram trégua, e forçaram a todos os envolvidos a definirem suas metas de descarbonização até 2050, com metas intermediarias para 2030 e 2035.  Seguiu-se a Guerra da Ucrania, que sobrepôs a toda esta dinâmica de controversas tendencias, a força da escolha entre amigos e inimigos.  Países que precisavam equilibrar seus orçamentos desbalanceados na pandemia e pós pandemia, pelos objetivos da COP26, se viam à frente de uma escolha de posições políticas opostas à razão econômica.

Nesta circunstância os EUA, lançam seu IRA Inflation Reduction Act, com subsídios gigantescos da ordem de 800 bilhões dólares, destinados à jornada de transformação econômica do fóssil ao sustentável. A política industrial se instala através destas medidas. Já a União Europeia com seu Green Deal e partindo em resposta aos EUA, anunciam subsídios na ordem similar aos EUA, para a transição energética, ampliando as restrições de comercio com leis de importação CBAM para produtos que carregam carbono fóssil e provenientes de áreas de desmatamento e restringindo opções na mobilidade. A China por seu lado, define como objetivo de seu Partido, assumir a liderança mundial de produção de veículos elétricos, imputando subsídios pesados nos produtos chineses e voltados a exportação. Com isto a China entra em uma demanda subsidiada dos EUA e da Europa, causando severas distorções no mercado da mobilidade. Neste cenário as regras da OMC já se foram a tempo. Os EUA não designam seu juiz para a corte, ficando esta acéfala,  e sem eficácia,  para qualquer julgamento nos painéis de controversas. Na boa argumentação ambiental, as três potencias justificam suas medidas “pelo bem da humanidade e do clima”. A corrida na disputa pela bioeconomia sustentável já se iniciou, e as esquadras já saíram do porto fóssil em direção a um horizonte “saudável”. Mas como em todas as esquadras, sempre temos os “navios mãe “que dão a orientação ao comboio. Todos estão neste comboio, uns mais à frente outros atras, pois este comboio é o nosso universo de países com suas políticas econômicas e ambientais.  Os três “navios mãe” já mostram por onde querem navegar;  a nave EUA seguirá pelo curso de imprimir velocidade pelo mercado de capitais e pela iniciativa privada, turbinada fortemente por um combustível barato de subsidio. A nave Europa decidiu, além de turbinar com subsídios sua economia, fechar de vez os mercados que julga estratégicos como o agrícola entre outros. Já a nave China, oportunista entra nos mercados ditos ambientais com seus produtos subsidiados como os veículos, os chips e tecnologias de informação, que sem estes pouca inovação seria possível.

No meio desta conversa toda, enquanto a OMC, a olhos vistos, se desfaz, abre-se como a portas de Sésamo uma nova rodada de negociação.  A palavra mágica para esta porta se chama CARBONO. Nesta mesa os EUA, irão aportar e favorecer segmentos econômicos que por si apresentam reduções de carbono, mas diferente da Europa irão chamar os segmentos internacionais para uma negociação global, o que fara dos EUA ser a grande plataforma de negócios rápidos, pragmáticos e de alianças compartilhadas mundo afora, menos claro a China e se opondo ao jeito europeu. A Europa já definiu seu mercado de carbono interno, que será uma das bases financiadoras de compensações entre setores e países europeus. Pelo CBAM busca favorecer ainda mais os setores internos na redução de carbono, através do contingenciamento das importações e por cobrar pesados encargos. A Europa tentara exportar ao mundo seu conceito de Green Deal. 

E a nave América Latina onde está?

A boa notícia é que a esquadra LAC já zarpou do porto fóssil em direção ao horizonte “saudável”. A outra boa notícia é que ela tem a bordo um ativo incrível ambiental e de diversidade. A esquadra LAC já é movida por energia renovável na sua maioria e carrega alimentos e insumos importantes para quem quiser se transformar. A má notícia é que ela não se deu conta que na mesa de negociação está a nova moeda chamada CARBONO. Ainda torce para que a OMC possa de novo ser uma mesa redonda justa, e não percebe que não tem o cacife econômico das outras três naves para fazer a Bolsa de Carbono girar. A esquadra LAC tem  no Brasil,  a sua nave mãe, que poderá exercer uma força relevante na Bolsa de Carbono, se entender este jogo, e souber com inteligência mostrar e utilizar o seu ativo ambiental em favor do carbono e não contra ele. A mesa já está posta, precisamos entrar no jogo e fazer valer o grande ativo dos trópicos. A “moeda verde” que está na mesa, tem a métrica dos países temperados, a nossa e a de muitos outros países com a realidade tropical, precisa se apresentar jogando com seus elementos 1).    Se o Brasil conseguir apresentar uma legislação de credibilidade de mercado regulado e voluntario de carbono, e de redução de temperatura global, com inserção de sua sociedade civil, será um líder natural para os outros países da América Latina e Caribe, África, Asia e Oceania, que irão se juntar neste novo mercado, para fazerem com que seus produtos e serviços se tornem muito competitivos sendo compensados pelo carbono subtraído na sua realidade tropical.  No Brasil a legislação do mercado de carbono  está em debate no Congresso brasileiro, que não pode ser ingênua, ao ponto de querer ser a única idealista em um mundo de capitalismo selvagem, onde somente os fortes serão respeitados. O Brasil por tudo que já conquistou na área ambiental, energética, de sustentabilidade e preservação precisa acordar para monetizar nesta nova Bolsa de Carbono, o que os outros não tem e almejariam ter, e por isso precisam oferecer subsídios gigantescos.  Se soubermos fazer o certo com nossas potencialidades na mudança climática sustentável, teremos a chance de entrar neste jogo com um respeitável cacife. Para isto não serão necessários bilhões de dólares de subsídios, mas de políticas que reúnam uma inteligência coletiva capazes de oferecer soluções extraordinárias na mudança climática global e ao mesmo tempo combatendo a pobreza e a fome.  

Quem poderá resistir a esta oferta?

*Ingo Plöger. Empresário brasileiro, Presidente CEAL Capitulo brasileiro

  1. eesp_relatorio_verde-eng_digital_-ap3_v3.pdf (fgv.br)

A_luta_pelo_Verde_era_mercado_Carbono.pdf (apdbrasil.de)

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