Por quem os sinos dobram: o novo modelo social – Uma coluna de Ingo Plöger (Português)

Saímos da pandemia mais ricos, mais pobres, mais digitalizados, menos globalizados.

A desigualdade se mostra não por quem você é, mas onde você está. As regiões mais ricas, estão vacinadas enquanto as mais pobres muito menos. A inflação mundial que partiu da crise da oferta atinge mais, os que menos tem do que os outros. As desvalorizações das moedas, são mais intensas nas economias mais fracas do que nas fortes. Os juros altos atingem os que necessitam de credito e favorece a quem aplica.

Por quem será que os sinos tocam neste Natal?

No símbolo da fraternidade natalina, pela salvação através do Amor, os sinos tocarão certamente para Aquele que nasceu na manjedoura. Nada mais simbólico para os dias de hoje.

Enfrentamos um dos maiores desafios da humanidade jamais tão conectada, tão inclusiva e tão frágil em suas atitudes de solidariedade. Enfrentamos agora a variante Ômicron, do Covid 19, que surgiu de um país em desenvolvimento e atinge os desenvolvidos, especialmente aqueles cidadãos, que não se dispuseram a receber a vacina. Enquanto todos não estiverem vacinados, os riscos serão grandes.  Os países desenvolvidos, sabem agora mais ainda, que não compartilhar vacinas excedentes com países que o necessitam para concluir sua proteção, é um gol contra.

A pauta dos países menos favorecidos é saúde em primeiro lugar e manutenção dos mínimos contra a fome e a miséria. Nos mais favorecidos, também é a saúde, os deles em primeiro lugar, seguido, de manter o nível econômico sustentável, onde a questão ambiental esta certamente em patamar muito alto na escala de seus valores.

Nas democracias, o voto se dá para aquele candidato ou partido, que melhor interpreta a resolução de seus problemas. E os ventos mostram que a pauta social é fortemente predominante nos países em desenvolvimento, pela perspectiva social. A Europa, mostra sua preferência, recentemente pelas eleições alemãs, pelo social ambiental e liberal. Na nossa América Latina, as mais recentes eleições, vão na direção da resolução dos temas sociais, como no Peru, Honduras e recentemente no Chile. Tomarei o Chile como um exemplo pela vitória do jovem Gabriel Boric, de 36 anos, que para o segundo turno se deslocou mais ao centro do que para a radical esquerda. Pelas suas declarações recentes percebe-se que está pautado em colocar o Chile em uma nova ordem social democrata, que pouco tem a ver com os modelos socialistas do passado latino americano. Sua visão é de diminuir as diferenças sociais, de um país que tem o maior índice de PIB/ per capita da América Latina, com uma classe média forte, porem com uma classe média-baixa, sem condições de sustentar um seguro previdenciário privado, pagar pela educação, seguro de saúde, e uma evolução de preços por baixa competição em um mercado relativamente pequeno.  Chile nos da uma lição de civilidade democrática, seu opositor Kast, dois dias após as eleições já se reuniu com Boric, oferecendo uma pauta mínima comum. A Constituinte, liderada por uma politica de esquerda, recebeu o recado claro, que embora fosse alinhado a uma serie de ideias de Boric, não terá nenhuma interferência do mesmo, pois se tratava de um projeto de Nação a longo prazo. Esta civilidade no passar do bastão, mais as alternâncias, demonstram que existem preceitos que serão respeitados, mesmo no grande embate de ideias controversas. É a grande esperança que uma sociedade madura e esclarecida, como a chilena, poderá ter avanços significativos no seu novo modelo social.

O que isto nos ensina?

Primeiro, a sustentabilidade econômica só é possível se contemplar os mínimos sociais. Manter a sustentabilidade econômica social e ambientalmente orientada, significa oferecer soluções de curto prazo que amenizem o sofrimento e no médio e longo deem sustentabilidade estrutural. Fome e miséria, são inaceitáveis. Aumentar a riqueza de maneira exacerbada na maior das crises pandêmicas é eticamente questionável. Portanto a resposta da população à política, certamente é, corrijam em tempo esta aberração. É ali que reside o risco do populismo, se não se entender corretamente o que o eleitor quer.

O Novo Modelo Social das democracias, será norteado, em preservar os mínimos para uma vida digna e oferecer um máximo em oportunidades. E curiosamente observo que esta pauta, não é nova, e foi exatamente um Chanceler conservador cristão democrata na Alemanha, Ludwig Erhard, que apregoava o sistema econômico, o do social de mercado. O mecanismo de mercado teria seus limites, quando afetaria a dignidade humana. Assim se instalou um salário mínimo, pois se deixasse o mercado fluir somente pela oferta e procura, os salários desceriam a níveis insustentáveis. Que o pão e o leite e a farinha receberiam estímulos contra a fome. O Estado estabeleceria uma rede de sustentação mínima de saúde e aposentadoria. E foi assim que se iniciou esta jornada. Posteriormente com a evolução sindical, os contratos sociais assumiram esta posição até o ponto da insustentabilidade. O Estado com a evolução econômica ampliou as benesses se tronando um estado de privilégios abandonando cada vez mais, o Estado de Oportunidades, onde pela competência, competição e mercado, os melhores venceriam. Na globalização algo foi deslocado, o que era doméstico, foi a outras regiões e o poder de compra do cidadão aumentou embora seu emprego ficasse ameaçado. A pandemia de certa maneira, deu um desarranjo global nas cadeias produtivas, e certamente novos empregos serão criados por trazer de volta serviços e produtos deslocados. Uma obra a ser revisitada é do Novo Modelo Social de Hanns Martin Schleyer,1) a personalidade inesquecível, presidente da Confederação de Industrias Alemãs da década de 70, que infortunadamente perdeu sua vida pelos terroristas do Grupo Bader Meinhof. Nesta obra Schleyer, propõe o modelo da economia social de mercado como a grande oportunidade ao empresariado alemão e internacional, pela inclusão social e pela nova demanda. O seu modelo deu certo, como podemos ver pela evolução de seu país.

Mas o Novo Modelo Social, hoje, em um mundo muito mais digitalizado, tecnologicamente avançado, necessita de visões inclusivas onde a inovação em grande escala coloque foco também nas tecnologias sociais. Estas tecnologias além de serem inserciva, trarão grande escala, e o protagonismo nos países consumidores, ou seja, os em desenvolvimento. Nova visão, arrojo juvenil, inovações que beneficiem a muitos, terão um investimento menor do Estado, dando espaço em seus orçamentos e serão reconhecidos pela população, que tão somente quer pelo seu desempenho, melhorar a sua condição de vida. Que os sinos nos lembrem deste legado.

Feliz Natal e Feliz Ano Novo!

 

Ingo Plöger. Empresário brasileiro, Presidente CEAL Capítulo brasileiro

 

1) Hanns Martin Schleyer, Das Soziale Modell; Stuttgart Dfegerloch  Sewald Verlag, 1974

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