O Dia Depois: Questões Sociais e Econômicas em um Mundo ‘Pós-Pandêmico’ em 2022 – Uma coluna de Ingo Plöger (Português)

Estamos entrando no novo ano de 2022, saindo de uma pandemia e de acordos globais sobre o futuro do nosso planeta. Voltamos a planejar e querer antecipar o futuro para nossas atividades.

Os países desenvolvidos, já vacinaram a maioria de seus cidadãos e estão na terceira aplicação, enquanto países em desenvolvimento ainda estão em parte na sua primeira dose. A rejeição da vacina, se tornou um fato político nos países desenvolvidos, enquanto o acesso é o fator decisivo nos países em desenvolvimento. A erradicação da COVID só se dará quando tantos quanto possíveis estiverem vacinados, e as variações das cepas se tornarem mínimas, pela proteção geral. Alguns países centrais na Europa, apresentam um recrudescimento da contaminação, e as medidas de restrições novamente são aplicadas por regiões. Enquanto isto os países em desenvolvimento apresentam índices de vacinações crescentes. Alguns surpreendem, como o caso da megacidade de São Paulo, que atingiu 92% da dupla vacinação, e ainda não permitiu o relaxamento do uso de máscaras, mesmo em locais abertos.

Teremos, portanto, ainda no ano de 2022, ajustes importantes na mobilidade, pela questão da saúde publica regional e mundial. Afetará as economias pelo lado do comercio aberto, turismo, lazer, feiras, exposições e pela cultura. Hábitos adquiridos nestes últimos 18 meses, provavelmente serão mantidos, como o e- delivery, a utilização de fornecimento por plataformas, sem falar do avanço nas reuniões e trabalho a distância, assim como a difícil escolha para os aprendizados a distância de escolas e universidades. A dificuldade está em entender quais serão as tendencias que foram passageiras e outras que serão permanentes. E para os países em desenvolvimento ainda está muito presente o fantasma real da fome e da miséria crescente. Embora a flexibilidade das restrições tenha sido relaxada, as consequências no comercio, turismo, lazer fizeram lacunas econômicas em empresas e empregos, que sem o auxilio emergencial dos estados, a fome teria sido ainda maior. Esta realidade nos mostrou a face real da humanidade, pouco solidaria, no que diz respeito a compartilhar de maneira mais equitativa os cuidados com a pandemia e a consequência do social. Por outro lado, mais solidaria, no que se refere aos cuidados do Planeta pelos resultados alcançados em Glasgow para a questão ambiental. Embora estes compromissos alcançados mostraram uma solidariedade, até inesperada, que em termos ideais ficaram aquém do necessário, mas mostraram o que é possível.

Observando as duas faces desta mesma moeda, reparo que as questões sociais globais, não recebem a mesma atenção politica que a questão ambiental, talvez porque é muito mais a agenda dos países em desenvolvimento do que os desenvolvidos. Certamente esta miopia terá repercussões políticas nas democracias ao longo do tempo.

E a economia, como fica nesta perspectiva?

Muito interessante notar, que nos indicadores macro econômicos globais, três tendencias, marcam o “o dia depois”. A primeira é que a recuperação econômica, o crescimento do PIB, esta acima do esperado, na maioria dos países. A segunda é o endividamento dos estados pelo auxilio emergencial e a terceira é o incremento da inflação.

A pandemia, desestruturou as cadeias produtivas globais, e fez com que na retomada econômica o colapso dos suprimentos se deu, pelo desequilíbrio regional, estrutural e o da demanda. A pandemia forçou a demanda da “logística da última milhagem” de tal ordem, que a oferta não conseguiu e consegue atender. A demanda não atendida reage pelo preço, que inflaciona a economia pela escassez da oferta. Os Bancos Centrais e muitos agentes financeiros tem a tendencia, de reagir com instrumentos da inflação da demanda, e o risco muito alto é que não será eficaz, pois não atinge a origem do problema, que é justamente a oferta. A ultima vez que a economia global passou por algo similar, foi no choque do petróleo na década de 70. Não era uma inflação de demanda, mas de oferta pela criação da OPEP pelo aumento do preço do petróleo.

O aumento de juros, tão somente, embora desacelere o consumo, realimenta os preços da oferta, do capital, e os efeitos colaterais são muito grandes. Enquanto a oferta não for estimulada por investimentos, taxas de cambio competitivas, redução de taxas de importações e facilitação do comercio exterior, investindo em logística, energia, e em áreas de escassez estratégicas, o efeito será perverso, aumentando não a competitividade, mas estimulando a presença do estado no lugar da iniciativa privada, com subvenções e intervenções indesejadas.

O ano de 2021, mostrou que crescemos mais do que imaginávamos, e os resultados econômicos forma melhores que o ano de 2020. Embora tenhamos juros maiores, o crescimento para o ano que entra manterá a demanda estrutural ativa, ou seja vendas não realizadas pelo colapso dos suprimentos, serão postergadas para 2022. Os auxílios emergenciais, se manterão ainda por conta do social, e, portanto, teremos endividamento maior de um lado, mas crescimento, embora em índices menores que em 2021. É neste ponto que vemos as maiores divergências entre os indicadores do FMI, Banco Mundial, OECD e as instituições financeiras. 1)

Aqui o mapa dos aviadores difere do território sobrevoado…

Pelas observações acima, parece que teremos uma contradição grande entre o que se espera da economia e o que se prevê. “O dia depois”, embora tenha maiores desigualdades, criou por outro lado uma demanda ainda não completamente entendida e uma capacidade de reação bem maior que a esperada. A realocação (para baixo) dos preços da oferta durante o ano de 2022 acontecerá, inclusive nos preços da energia, nos alimentos e nas matérias primas. Os aumentos já foram precificados, e a demanda pelo novo normal irá se reestabelecer, não dando argumento para uma recessão mundial e na América Latina, como demonstram as previsões do FMI e do Banco Mundial, contrario ao sistema financeiro que prevê recessão. 2)

Estaremos nos dividindo entre aqueles que acreditam em seu mercado e sentem o pulso de seus clientes e investirão, e o excesso de zelo, cuidado e aversão ao risco exagerado, do outro, permanecendo no rentismo.

 

Espero que minha intuição empresarial não me decepcione.

 

Ingo Plöger. Empresário brasileiro, Presidente CEAL Capitulo brasileiro

 

1)         http://www.fgv.br/mailing/2021/conjuntura-economica/11-novembro/revista/7007231/8/#zoom=z

2)         https://forbes.com.br/negocios/2021/09/fmi-diz-que-economia-brasileira-esta-se-saindo-melhor-do-que-o-esperado-e-mantem-projecao-para-pib/

 

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